domingo, 17 de março de 2019

As palavras caiam a seus pés como folhas secas
a água da vida secara  no poço
e a sede saciava-se nas estrelas.

Jalves

domingo, 22 de março de 2015


TEXTOS DE MARIA GABRIELA LLANSOL

Como a chuva não cessasse de cair em caudais,
Tiras de tinta começaram a aparecer na fotografia
O tecto da chuva rompera o abrigo da sua alma
E o verde circulava a deriva rompendo as plantas.
Elvira deixara cair seus olhos de objectiva nas
Folhas verdes. Verificava que era sobre elas e como
Elas que sempre olhara a natureza. Ver o real
Em folhas era amá-lo ininterruptamente. Essa
Contiguidade acabara por compor uma rede
Que tinha tanto de próximo como de diferente,
E a chuva não era chuva, transparecia. Eis, pensou.
Por que chove na fotografia, por que chove
Em correntes sobre as folhas?

*

Se as sete notas das sete da manhã fossem uma
Figura, e os sons da rua sua serva, seria possível
Encontrar a relação que existe por acústica
Entre uma borboleta e uma borboleta protegendo
Em vão sua vida e cor. Não há nada de estranho
Nessa relação figural. Por exemplo, Pita
(E é a sua primeira vez) pôde sentir num tecido
Branco que chorava manso a efectiva resistência
Às lágrimas que a habita em fúria.

*

Não se convence que a escrita e a vida vão a par,
Descontadas diferenças de velocidade e alguma
Galhardia no tempo. O corpo demora a experimentar.
Usa-se. É o facto dos afectos. Entrou na vida? Entrou
Na escrita floral dos fiéis de amor. Não quer, todavia,
Abri-la, ainda menos lê-la. E tão teimosamente o faz
Que dificilmente um novo perfume entre sede e planta
Lhe subirá pelo caule. Ó rapariga, quando te irá cheirar
A luar libidinal?

*

Passar a voz ao papel,
Ou do ladrar à rosácea,
Trova, é escrever. Estava
Ele, atônito, não vislumbrando
Como ia tanta palavra
Caber na rosácea.
Era óbvio que uma delas
Serviria de estaca,
E as restantes de rosas
No caule ainda por vir.
Quando a frase rosna,
Não há outro remédio.

*

A boca aerticulava em voz alta, servindo-se
Dos seus outros instrumentos, o palato, a língua
E os dentes. Do movimento, brotavam rumores,
Interstícios e uma grande orbita de nomeação.
Diferente é o ponto fulcral do urbano. Sulcos
E memórias confluem para uma iluminação
Incipiente. No urbano, o aparelho fônico
É excedente.

.
.
.

domingo, 20 de novembro de 2011

AS LETRAS DO TEMPO

As letras e os cometas são poeira do mesmo saco astral.
Se lhes dá o vento vão parar ao quintal das estrelas cadentes
Carentes videntes saltando nos caminhos virados a sul.
Vertem feitiços nas malhas dos ancestrais fornos de azedo metal.
Gritam batendo a pedra em jeito de oração mais amargo que sumo de limão
No circulo rodam os corpos até ao tombo no chão vitriuo dos cristais fundidos
no frio dos tempos.
E o silêncio se deita na toalha da mesa flutuante das marés vazias e barcos encalhados na escuridão.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

PALAVRAS VAZIAS

Vazias as palavras guardavam em si o pó dos tempos
no canto sombrio dos armários por arrombar os cabides conservam as roupas por vestir
a humidade mancha as paredes lisas de tudo
como se no começo a nudez saísse na rua de alma despida.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

TERNURAS

Tecendo os dias na imagem de alguém que conta,descubro o drama do homem feito tempo,lembrança e lucidez no distanciamento imaginário.O poético desdobrando-se,ditame sugestões de consentida ternura.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O Tempo



Rasgavas as folhas dos espaços vazios de nada.
Nas paredes pinceladas de tédio descreviam golpes de asas.
A água na sua passagem constante esboroava os muros em nossos corpos.
E tu religiosamente contavas o tempo no bolso dos homens como cão
preso na corrente da vida.